“Se procurar bem, você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.”
Carlos Drummond de Andrade
Saudades do tempo em que a poesia era meu idioma predileto, minha melhor tradutora e intérprete dos sentimentos mais puros e indecifráveis de alegria – e também de tristeza.
Saudades do tempo em que a poesia era um exercício genuíno de empatia, de colocar-se no lugar da mulher amada e sair em busca da palavra exata, do concerto que melhor vestia e reproduzia sentimentos tão amplificados no fundo da alma.
Saudades do tempo em que as pessoas eram mais responsáveis com o uso da palavra, mais cuidadosas e atentas à precisão semântica de suas mensagens para não despertar sentimentos equivocados no outro. Saudades da sabedoria de um Haikai japonês que certa vez encontrei, escrito por um Samurai: “A palavra, minha espada mais afiada” – expressão simples e poderosa do poder implacável da palavra.
Saudades do tempo em que eu me reunia com os amigos para recitar poesias em volta de uma fogueira, na Praia de Pernambuco, debaixo daquele inesquecível tapete de estrelas. Como era bom passar a noite ouvindo Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, Camões, Chico Buarque e tantos outros, naquelas vozes encantadas com a sabedoria daqueles que eram nossos mestres.
Como era gostoso romper o silêncio da noite, pouco antes de dormir, lendo poesias em busca de inspiração, fervor e, ao mesmo tempo, delicadeza para a vida.
Saudades do tempo em que era romântico mandar flores com uma poesia que tinha levado dias para ficar (quase) pronta.
Ahhhh, como eu queria, ao menos por um instante, reviver aqueles tempos de poesia!
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