Não existem segredos na vida corporativa. Simples assim. Esta é uma das poucas verdades que considero absoluta e universal, porém as pessoas insistem em cair no autoengano de acreditar na confidencialidade de seus desabafos com amigos da empresa.
Todos os dias tomamos conhecimento de fatos relevantes dos mais variados...
Por exemplo, situações que alguém que trabalha na empresa vivenciou em sua esfera privada ou no trabalho, sejam positivas ou que configurem um drama pessoal.
Ou fracassos e erros cometidos por pares da equipe, por líderes próximos ou não – estes então são os que as pessoas mais gostam de escutar e falar.
Com frequência descobrimos alguma mudança ou decisão importante que ainda será devidamente anunciada, e que chegou até nós numa expectativa de confiança na nossa capacidade de guardar um segredo.
Também faz parte do cotidiano dados de desempenho significativos, para o bem ou para o mal, que chegam até nós das formas mais inusitadas.
A vontade louca de contar para alguém surge por motivações diversas: dividir a alegria de uma conquista que ainda está por vir; compartilhar o fardo de uma informação tão pesada que parece insuportável carregá-la solitariamente; pelo desejo mórbido de diminuir o outro, revelando seus deslizes na expectativa de melhorar a autoestima desfalcada, ou pelo desejo de vingança de uma injustiça sofrida no passado; pela vaidade de demonstrar ao “confidente” o valor que lhe foi concedido pela informação; ou simplesmente porque as pessoas adoram uma fofoca. E quanto mais relevante ou picante, maior é a sensação de poder que uma informação proporciona a quem a recebeu, de maneira direta ou indireta.
Mas as pessoas esquecem do fenômeno da propagação em rede:
– Promete que não vai contar pra ninguém? Só estou contando pra você porque é meu amigo e confio em você!
– Sim, claro, por favor me conta!
Ao sair da conversa, logo depois este encontra outro amigo na empresa e diz:
– Você não vai acreditar no que eu fiquei sabendo agora! Mas você tem de me prometer que não vai contar para ninguém!
E assim por diante, a cena vai se repetindo numa disseminação viral da informação pela empresa inteira e fora dela. O raio de alcance da informação é absolutamente incalculável, porque hoje as pessoas contam com a velocidade implacável do WhatsApp, SMS ou email. E o vazamento inadequado e inesperado de uma informação privilegiada pode produzir impactos dos mais variados para quem foi tema da informação compartilhada e até para você mesmo.
Da mesma forma, com frequência líderes precisam manter sigilo sobre determinadas decisões, ideias inovadoras ou projetos estratégicos na sua fase de gestação. Nestes casos, acabam restringindo o acesso a grupos muito pequenos porque sabem que é muito fácil perder o controle da informação.
Também, é preciso deixar claro que você não deve ser cúmplice de irregularidades ao tomar conhecimento de ações que possam colocar em risco a empresa, e optar pelo silêncio. É preciso descobrir a melhor maneira de levar adiante um alerta importante que pode tirar a organização de uma enrascada.
O senso de responsabilidade deve ser cultivado na organização, por meio de políticas claras e processos de segurança da informação, e pela conscientização permanente dos colaboradores, com ações de comunicação corporativa e treinamento.
Em todo caso, guarde para si as pérolas que chegam até você e pense bem antes de compartilhá-las com outras pessoas, dentro e fora da empresa – ainda mais se você for Consultor ou Conselheiro que acessa informações diversas todos os dias nas empresas onde circula. Qualquer deslize dificilmente será perdoado.
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